… acho que descobri, sabes?! A razão profunda porque é que a
tua partida, quando nem te conheci em vida, espoletou uma avalanche dentro e
fora de mim. Emoções contraditórias, sentimentos arrasadores, e lágrimas que
não cabem na minha memória, desde quando ainda nem tinhas nascido.
Acho que descobri, Madalena.
Nos últimos 15 anos da minha vida, vi muitas pessoas de palmo e meio a
partir com sofrimentos inauditos. Vi muitos pais – heróis, como os teus -, agarrados
a cada diminuta possibilidade de manterem viva a sua criação, a sofrerem quase
sempre num imenso silêncio, a terem de suplantar uma perda anti-natura.
Raras, muito raras vezes, pude abraçar uns e outros. Tinha um trabalho, e uma responsabilidade, em que a emoção era para deixar fora
das portas das três dezenas de hospitais por onde andei, com uma legião de
homens e de mulheres de boa vontade. O de Coimbra foi dos primeiros, sabes?!
Acho que descobri, Madalena.
Tenho, de igual modo, no mesmo tempo, no mesmo espaço, o
imenso privilégio, a infinita bênção, de conhecer meninas e meninos que quais Ronaldos desta vida “fintaram Deus”, e não partiram quando Ele achava que tinha de ser. Ficaram
para semear mais esperança, mais força, mais amor e gratidão – sentimentos que
ontem o teu pai transformou em palavras. Uns partiram depois, no seu tempo.
Outros fincaram pé e alguns ainda me dão a honra de partilhar o resto do
caminho com eles.
[Recebeste o recado
em P.S. sobre a Inês “dos nãos”? Olha, enviou-me outro ontem, assim: “Amanhã
vou estar na piscina, e vou nadar com a minha mão direita e esquerda.” Parei o
carro para lhe responder: “Fazes o favor de me enviar um pequenino filme?! Diz
à mãe.” E logo à frente tirei para vocês as duas a fotografia possível de um
sol lindo, amarelo suave, em fim de dia].
Descobri, Madalena!
Chama-se Alexandre, o padre. Perguntei a uma jovem ao meu
lado, que deixava rolar as lágrimas quatro a quatro. Ontem, o
Pe. Alexandre convidou os teus pais e irmã, para levarem as muitas dezenas de
pessoas em Oração ao Anjo da Guarda - tu, garantiu: “Anjo da Guarda/ Minha Companhia/Guardai
a Minha Alma /De Noite e de Dia”. No fim, arrastou-nos numa imensa ovação. Uns longos segundos de palmas, que pareceram muitos minutos. Igual a sexta-feira.
“Somos um”, voltou ele a insistir. Um, juntos. Um, com Deus.
Para terminar evocando Sta. Teresinha: “Não é a morte que virá
buscar-me, é Deus.”
Voltei a casa de coração transbordante outra vez e ainda
mais: com longos e muito fortes abraços da tua mãe, do teu pai, do teu avô…
colados à alma. Tudo porque tu existes. Até já.
Mais um lindísssimo texto de homenagem à minha neta. Muito obrigado. Rui Teixeira
ResponderEliminarEu é que lhe sou grata, Rui, por aquele abraço tão forte, tão emotivo.
Eliminar😍😍😍😍
ResponderEliminarUm texto lindo.
ResponderEliminarTambém não conheci a Madalena, mas a minha filha recorda-se dela na catequese.Quero deixar aqui um abraço apertado a toda a família por este momento tão difícil...
Obrigado pelas palavras. Beijinho grande. Estela
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
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