terça-feira, 7 de agosto de 2018

Descobri, Madalena!


… acho que descobri, sabes?! A razão profunda porque é que a tua partida, quando nem te conheci em vida, espoletou uma avalanche dentro e fora de mim. Emoções contraditórias, sentimentos arrasadores, e lágrimas que não cabem na minha memória, desde quando ainda nem tinhas nascido.

Acho que descobri, Madalena.
Nos últimos 15 anos da minha vida, vi muitas pessoas de palmo e meio a partir com sofrimentos inauditos. Vi muitos pais – heróis, como os teus -, agarrados a cada diminuta possibilidade de manterem viva a sua criação, a sofrerem quase sempre num imenso silêncio, a terem de suplantar uma perda anti-natura.
Raras, muito raras vezes, pude abraçar uns e outros. Tinha um trabalho, e uma responsabilidade, em que a emoção era para deixar fora das portas das três dezenas de hospitais por onde andei, com uma legião de homens e de mulheres de boa vontade. O de Coimbra foi dos primeiros, sabes?!

Acho que descobri, Madalena.
Tenho, de igual modo, no mesmo tempo, no mesmo espaço, o imenso privilégio, a infinita bênção, de conhecer meninas e meninos que quais Ronaldos desta vida “fintaram Deus”, e não partiram quando Ele achava que tinha de ser. Ficaram para semear mais esperança, mais força, mais amor e gratidão –  sentimentos que ontem o teu pai transformou em palavras. Uns partiram depois, no seu tempo. Outros fincaram pé e alguns ainda me dão a honra de partilhar o resto do caminho com eles.

 [Recebeste o recado em P.S. sobre a Inês “dos nãos”? Olha, enviou-me outro ontem, assim: “Amanhã vou estar na piscina, e vou nadar com a minha mão direita e esquerda.” Parei o carro para lhe responder: “Fazes o favor de me enviar um pequenino filme?! Diz à mãe.” E logo à frente tirei para vocês as duas a fotografia possível de um sol lindo, amarelo suave, em fim de dia].

Descobri, Madalena!
Chama-se Alexandre, o padre. Perguntei a uma jovem ao meu lado, que deixava rolar  as lágrimas quatro a quatro. Ontem, o Pe. Alexandre convidou os teus pais e irmã, para levarem as muitas dezenas de pessoas em Oração ao Anjo da Guarda - tu, garantiu: “Anjo da Guarda/ Minha Companhia/Guardai a Minha Alma /De Noite e de Dia”. No fim, arrastou-nos numa imensa ovação. Uns longos segundos de palmas, que pareceram muitos minutos. Igual a sexta-feira.

“Somos um”, voltou ele a insistir. Um, juntos. Um, com Deus. Para terminar evocando Sta. Teresinha: “Não é a morte que virá buscar-me, é Deus.”

Voltei a casa de coração transbordante outra vez e ainda mais: com longos e muito fortes abraços da tua mãe, do teu pai, do teu avô… colados à alma. Tudo porque tu existes. Até já.



6 comentários:

  1. Mais um lindísssimo texto de homenagem à minha neta. Muito obrigado. Rui Teixeira

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    1. Eu é que lhe sou grata, Rui, por aquele abraço tão forte, tão emotivo.

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  2. Um texto lindo.
    Também não conheci a Madalena, mas a minha filha recorda-se dela na catequese.Quero deixar aqui um abraço apertado a toda a família por este momento tão difícil...

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  3. Obrigado pelas palavras. Beijinho grande. Estela

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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